sábado, 28 de fevereiro de 2009

confissão.

que esta minha paz e este meu amado silêncio
não iludam a ninguém
não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
acho-me relativamente feliz
porque nada de exterior me acontece...
mas,
em mim, na minha alma,
pressinto que vou ter um terremoto!

Mário Quintana
nunca ninguém sabe
nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar
pois o meu verso tem essa quase imperceptível tremor...
a vida é louca, o mundo é triste:
vale a pena matar-se por isso?
nem por ninguém!
só se deve morrer de puro amor!

razão de ser.

escrevo. e pronto.
escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
ninguém tem nada com isso.
escrevo porque amanhece.
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
a aranha tece teias.
o peixe beija e morde o que vê.
eu escrevo apenas.
tem que ter por quê?

amor bastante.

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Paulo Leminsk

incenso fosse música.

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além


Paulo Leminsk

domingo, 22 de fevereiro de 2009

significados.

solidão é uma ilha com saudade de barco.
saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue. lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer “eu deixo” é pouco.
pouco é menos da metade.
muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.
indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
certeza é quando a ideia cansa de procurar e para.
intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
renúncia é um não que não queria ser ele.
sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
ansiedade é quando sempre faltam 5 minutos para o que quer que seja.
indiferença é quando os minutos não se interessam por nada em especial.
interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
alegria é um bloco de carnaval que não liga se não é fevereiro…
felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
amizade é quando você não faz questão de você e se empresta para os outros.
decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
perdão é quando o Natal acontece em outra ápoca do ano.
desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
desatino é um desataque de prudência.
prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
emoção é um tango que ainda não foi feito.
ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
desejo é uma boca com sede.
paixão é quando apesar da palavra “perigo” o desejo chega e entra.
amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. não.
amor é um exagero… também não. é um “desadoro”… uma batelada? um exame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor não sei explicar…

today's fortune

"the only good is knowledge and the only evil is ignorance"

but we gotta understand that sometimes, ignorance is bliss

domingo, 15 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"se você e eu somos amigos, há uma prontidão dentro de nosso relacionamento. quando nos vemos ou quanso estamos separados, há uma prontidão de estarmos juntos, de rirmos e falarnos. essa prontidão não tem definição concreta: é viva, dinâmica, e tudo que emerge do fato de estarmos juntos e um dom único que não é compartilhado por mais ninguém. mas o que acontece se eu mudar 'prontidão' por 'expectativa', verbalizada ou não? subitamente a lei entra no nosso relacionamento. agora você espera que eu aja de um modo que atenda ás suas expectativas. nossa amizade viva se deteriora rapidamente e se torna uma coisa morta, com regras e exigências. não tem mais a ver com nós dois, mas com o que os amigos devem fazer ou com as responsabilidades de um bom amigo. - as responsabilidades e as expectativas são a base para a culpa, a vergonha e o julgamento."

escolhas.

"será que liberdade significa que você tem permissão pra fazer o que quer? poderíamos falar sobre tudo o que limita a sua liberdade. a herança genética de sua família, seu DNA específico, seu metabolismo, as questões quânticas que acontecem num nível subatômico onde só eu sou o observador sempre presente. existem as doenças de sua alma que o inibem e amarram, as influências sociais externas, os hábitos que criaram elos e caminhos sinápticos no seu cérebro. e há os anuncios, as propagandas e os paradigmas. diante dessa confluência de inibidoresmultifacetados, o que é de fato a liberdade? - liberdade jamais pode ser forçada - liberdade é um processo de crescimento"

Papai

good friend.


"sou um pouco de você. sendo assim, somos"

falta do que falar.

o vento levou os pingos de resto de chuva para longe daqui, te contou pro acaso, e por culpa dele, se soltou todo o amor que eu amarrei no travesseiro. enquanto seu vício te perdia com os novos amigos do centro da cidade, eu te esperei no toque do telefone. precisei fazer de você a minha garantia. Então, adotei contigo aquele amigo que consertou tão superficialmente toda a dor que ficou distante. tolice, se não existe dor no padrão dos nossos olhos. porém, só esqueço quando você me fala dos seus sabores favoritos e das suas cores preferidas. aí, peço para que venha o inverno só por fora. julho não verá nossos adeus; porque dois dias de cento e vinte reais vão nos despertar para um sono de lençol, e uma sacada com cheiro de areia úmida. ficaremos juntos até que em volta dos seus braços finos fique todo o resto do que não se vale a pena abraçar; nada tem seu perfume. cansei de esperar por algo de errado, você me funciona tão diferente. e se a noite acaba, amanhã tem pôr-do-sol. traga sua liberdade, e me prenda nos seus sonhos planejados sobre o asfalto. dessa vez, grita bem alto; é que eu me apaixonei pela sua voz.

passado.

já não tenho saco pra todos esses textos direcionados presentes no meu passado. estranho como eles sempre me tocaram de forma diferente, não que a admiração tenha passado. quer dizer... talvez sim. talvez eu tenha conseguido tirar de mim todo o interesse que eu tinha em ficar procurando escrever como esse outro que sempre admirei como pessoa. e hoje o que menos contou é o que conta mais nessa pessoa que eu diminui em mim a importância. mas talvez ainda reste algo de bom. talvez seja apenas o desinteresse em tentar. o preferir terminar falando da ironia. sem saber quando volta. ou a falta do que dizer a si mesmo. porque outro dia mesmo estava eu aqui a reproduzir tudo o que um dia foi arte pra mim. agora já não faz tanta diferença assim. talvez também seja a minha falta do que dizer. a falta de vontade em me repetir. e isso foi tudo o que esteve presente nesse passado. quantas vezes vi a palavra você? mesmo que indiretamente. a busca pelo novo, por arriscar dizer algo diferente, pra alguém diferente faz parte do crescimento interior. a gora falo diretamente. mas sei que nisso tudo nunca ouvi (olhando muito bem) quase sinal algum de evolução. ou apenas seja eu mesmo desaprendendo a não cuspir no prato que um dia já comi.

songs & truths for me

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

percebe?

você tem sido pior do que pegar o ônibus errado pra lugar nenhum. os nossos planos tem sempre essa cara de desastre, que eu adoro só por ser tudo o que temos. acho que esse "lado b" que criamos das nossas vidas está ficando perigoso demais, os últimos meses passaram tão depressa e não mudaram nada. e a gente ainda fica se levando pelo acostamento de uma larga estrada de ilusões sem se preocupar com o que sobra quando resolvemos cair na real. quando à isso, eu já lavei as minhas mãos. é óbvio que não sou eu quem quero me responsabilizar pelas decisões, muito menos você. falta-nos a maior parte da coragem. sabe, você pode me contar suas milhões de histórias sobre seus sentimentos e vontades que eu vou continuar duvidando de que não sou eu quem faz o papel de idiota aqui. estamos apenas de passagem, mas confesso que adoro me deixar enganar por você, e sei que você gosta muito disso. mentir é tão fácil, ouvir é mais ainda. e além do mais, não estou pronto para apanhar das nossas verdades por enquanto. vamos deixar assim, vai.

por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarisse Lispector